Faculdade de Medicina Veterinária

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Outubro 2021

O 2º Workshop do Projeto Europeu BovINE, decorreu online e via plataforma zoom, no dia 22 outubro 2021 das 14h às 17h00

O projecto BovINE é uma rede transeuropeia de apoio à produção de carne bovina, que procura enfrentar os desafios de sustentabilidade do sector. Envolve nove estados membros da UE e procura estimular o intercâmbio de conhecimentos e ideias a nível internacional em quatro temas: resiliência socioeconómica; saúde e bem-estar animal; eficiência da produção e qualidade da carne; sustentabilidade ambiental. Em Portugal, envolve a Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa (FMV-ULisboa), a PROMERT - Agrupamento de Produtores de Bovinos Mertolengos S.A. e a ACBM - Associação de Criadores de Bovinos Mertolengos.

O tema deste 2º Workshop do BovINE em Portugal para 2021 foi: Promovendo uma produção de bovinos de carne mais sustentável. Neste sentido, e depois das boas vindas dadas por José Pais, da ACBM e coordenador da rede regional do BovINE, e de uma primeira apresentação por Magda Aguiar Fontes, Professora na FMV-ULisboa e coordenadora do BovINE em Portugal, que apresentou sumariamente o projeto BovINE e fez um balanço de tudo o que foi realizado nestes primeiros 20 meses de trabalho desde o seu inicio em janeiro de 2020 até aos dias de hoje, foi possível ter a interessante apresentação do Projecto BPA.Eco (Boas Práticas Agrícolas Ecológicas / https://www.bpaeco.com), por parte de José Palha, da Pereira Palha Agricultura, Lda. e por Bruno Caldeira, da Consulai.

Numa segunda parte do evento, José Pais deu início à sessão de identificação e discussão das necessidades prioritárias na produção nacional de carne de bovino, tendo em conta o grande desafio de hoje de promover uma produção mais sustentável. Magda Aguiar Fontes, juntamente com José Pedro Lemos e George Stilwell, do parceiro FMV-ULisboa no BovINE, e ainda com José Pais da ACBM, e Humberto Rocha da PROMERT, moderaram 4 painéis de discussão sobre inovações e boas práticas que poderão fazer a diferença no aumento da sustentabilidade da produção de bovinos de carne em Portugal. Estes 4 painéis de discussão, decorreram em simultâneo, e tiveram como grande objectivo a participação da audiência para a selecção das necessidades prioritárias ao nível da produção de bovinos de carne, para 2022. Os participantes foram assim divididos em 4 salas temáticas para promover a discussão de acordo com a respectiva área de interesse/desafio.

Esperamos que este evento nacional tenha possibilitado mais uma vez, e a partir de uma discussão rica e construtiva, identificar as necessidades dos produtores para o ano de 2022, tendo em conta o grande desafio de hoje em promover uma produção mais sustentável.

Conseguiu-se gerar uma discussão verdadeiramente construtiva e identificar uma série de necessidades prioritárias ao nível das diferentes áreas temáticas que o projeto BovINE contempla: resiliência socioeconómica, eficiência produtiva e qualidade da carne, saúde e bem-estar animal e sustentabilidade ambiental. Após compilação das anotações recolhidas sobre este assunto durante a sessão, a título de exemplo deixamos aqui algumas notas, que posteriormente será enviado a todos os atores da rede nacional informação sobre as necessidades prioritárias identificadas para o próximo ano.

A nível da resiliência socioeconómica, salientou-se a necessidade ter uma estratégia de comercialização sustentável e a necessidade de fidelização dos clientes, a questão dos custos de
manutenção da vacada, e ainda ter programas de gestão do efectivo.

Na área temática da eficiência da produção e da qualidade da carne, foram referidas como necessidades prioritárias a necessidade de aumentar a gordura intramuscular para melhorar a
qualidade organoléptica da carne, acompanhando uma tendência de consumo de carne desde que ocorra valorização desses animais junto da produção primária; a necessidade da classificação de carcaças por scanning no sentido de poder valorizar a composição da mesma como um todo (massa muscular mais deposição de gordura inter e intra muscular) eliminado o erro humano associado à atual classificação SEUROP/nível de gordura 1,2,3,4,5; a necessidade de disponibilizar maior variabilidade de cortes ao consumidor, deixando a este opções de escolha no ato da compra; a necessidade de avaliar a composição dos alimentos compostos em vitamina E e Selénio considerando o seu efeito na coloração da carne e, ainda, a necessidade de avaliar a composição dos alimentos compostos, usados na fase de acabamento dos bovinos de carne no sentido de minimizar os efeitos do stress de transporte e de abate e consequente efeito deste na qualidade organolética da carne.

A nível do bem estar e da saúde animal, uma das questões considerada como mais premente foi a necessidade de combater parasitas gastrointestinais sem recurso a desparasitantes. A título de exemplo, a prática de revolver o solo da pastagem e o impacto que pode ter na redução de carraças e, portanto, de parasitas sanguíneos, pode ser uma resposta. Outras questões relevantes foram: a necessidade de prevenir stress por calor (heat-stress), causador de enormes problemas de bemestar e factor predisponente para diversas doenças; a necessidade de identificação sensível de vitelos de engorda na fase inicial de doença respiratória usando novas tecnologias de forma a evitar o uso desnecessário de antibiótico, garantir melhor e mais rápida recuperação e evitar levar animais saudáveis à manga para diagnóstico evitando aumentar o seu stress; e, ainda, a necessidade de formação em bem-estar animal de operadores, desde os tratadores nas explorações até aos transportadores e pessoal dos matadouros.

No que à sustentabilidade ambiental diz respeito, foi salientada a necessidade de melhorar a imagem da produção através de uma divulgação mais eficaz das boas práticas ambientais que os produtores já utilizam; foi sugerido promover a realização do "Dia Aberto na Exploração" para http://www.bovine-eu.net/ receber visitantes de áreas da sociedade desligadas do mundo rural, envolvendo escolas, autarquias, associações, entre outras; a necessidade de associar os produtos finais da atividade a um sistema de produção natural e equilibrado que respeita a sustentabilidade ambiental; a criação de um certificado/ distinção para explorações que implementem sistemas de produção em que o balanço de carbono associado à atividade seja favorável ao ambiente; a necessidade de criar uma ferramenta expedita e de fácil utilização que calcule o balanço de carbono nas explorações; promover e divulgar
o maneio holístico, e promover a recuperação dos solos através de práticas culturais de conservação e mobilização mínima ou nula.

A partir daqui há que identificar boas práticas validadas pelo rigor técnico e científico que promovam uma produção de bovinos de carne mais sustentável bem como inovações que possam dar resposta a estas necessidades.

Concluiu-se assim mais uma iniciativa no âmbito da Rede Regional e do Projeto BovINE e que pensamos ter sido verdadeiramente importante ao permitir que num mesmo fórum se reunissem os vários atores da cadeia de valor de carne de bovino e, assim, identificar as principais necessidades que os produtores enfrentam neste futuro próximo.

Note-se que as apresentações podem ser descarregadas por quem estiver interessado no link: https://www.mertolenga.com/conteudo.php?idnoticia=343

Pode também aceder ao vídeo deste 2º encontro nacional do projeto BovINE no https://www.youtube.com/watch?v=IMhIflSgERw

Fim/
Nota aos editores:
1. Produtores agrícolas de nove Estados Membros - Bélgica, Estónia, França, Alemanha, Itália, Polónia, Portugal e Espanha – estão envolvidos do Projeto BovINE.
2. Mais informação disponível em https://cordis.europa.eu/project/id/862590
3. Teagasc é a instituição coordenadora do projeto. Detalhes dos outros parceiros podem ser consultados no quadro abaixo